[Resenha] Proibido - Tabitha Suzuma

SINOPSE: Ela é doce, sensível e extremamente sofrida: tem dezesseis anos, mas a maturidade de uma mulher marcada pelas provações e privações da pobreza, o pulso forte e a têmpera de quem cria os irmãos menores como filhos há anos, e só uma pessoa conhece a mágoa e a abnegação que se escondem por trás de seus tristes olhos azuis. Ele é brilhante, generoso e altamente responsável: tem dezessete anos, mas a fibra e o senso de dever de um pai de família, lutando contra tudo e contra todos para mantê-la unida, e só uma pessoa conhece a grandeza e a força de caráter que se escondem por trás daqueles intensos olhos verdes. Eles são irmão e irmã. Com extrema sutileza psicológica e sensibilidade poética, cenas de inesquecível beleza visual e diálogos de porte dramatúrgico, Suzuma tece uma tapeçaria visceralmente humana, fazendo pouco a pouco aflorar dos fios simples do quotidiano um assombroso mito eterno em toda a sua riqueza, mistério e profundidade.


Autora: Tabitha Suzuma
Editora: Valentina (RJ, 2018)
Páginas: 302



"Proibido" é uma história de coragem. Coragem da autora por abordar um tema tão polêmico. Coragem dos personagens vivos, humanos e imperfeitos de viverem a felicidade clandestina de estarem juntos. Coragem dos leitores ao embarcarem nas linhas que compõem um enredo que corta e dilacera feito arame farpado.

Lochan e Maya pertencem à uma família de cinco irmãos negligenciados por uma mãe alcoólatra e abusiva. Crescem parceiros na missão de literalmente criar e educar os irmãos menores e, em meio a isso, descobrem-se apaixonados um pelo outro. A princípio, um leitor desavisado pela sinopse clara sobre o tema pode sentir-se incomodado por questões morais e religiosas, mas à medida que o texto envolui, percebe-se os grilhões opressivos que acorrentam o que os personagens chamam de amor. E é amor. Amor que perpassa a consanguinidade e estilhaça o coração do juiz punitivo que habita dentro de cada um de nós.

Mas o que é de fato o incesto? Incesto vem do latim e quer dizer "sacrilégio". Só a palavra por si só carrega o fardo de ser algo sujo, impuro... Algo que os protagonistas sentem na carne toda vez que desejam se tocar ou até mesmo pensar um no outro. O sentimento corrói como ácido e não há como não se sentir desintegrando com Lochan: um garoto em constante conflito existencial e mania de perseguição, que se automutila dilacerando com os dentes a ferida no lábio para suportar as responsabilidades descabidas que a vida lhe impôs. Mutila-se também para reprimir seus desejos libidinosos e para se defender da fobia social que vive rodeando-o, pronta para fazê-lo tropeçar nas palavras ou respirar rápido demais, tendo crises de pânico. 

Além do abandono afetivo, moral e material, Maya e Lochan precisam  conviver com o fardo das responsabilidades da casa, o que faz com que se pareçam ainda mais com um casal convencional, dispostos a tudo para proteger os filhos das agruras do mundo. 

Tortura, frustração, culpa, doença, perversão, desequilíbrio, sordidez, aberração, solidão e perturbação são palavras recorrentes na história para definir a relação incestuosa. Mas será mesmo que isso tudo faz sentido nas relações humanas? Pertinentemente, são abordados questionamentos sobre a frivolidade das relações contemporâneas - enquanto a deles é repleta de amor - e sobre outras ações ilegais que não escandalizam tanto as pessoas, como a tolerância para relações abusivas, violentas e adúlteras. 

Por que o amor entre irmãos encandaliza tanto? Na psicanálise, Freud tenta explicar em seu Complexo de Édipo, enquanto a História, a Ciência (através da atração genética) e a Literatura evidenciam o incesto tão negado pelo tabu culturalmente enraizado: animais têm relações incestuosas. Há relatos bíblicos incestuosos sobre Ló e suas filhas. Afrodite e outras deusas tinham relações com os pais. Egípicios faróis se casavam com as próprias irmãs para perpetuar a linhagem real (e, pasmem, era possível viver sem problemas genéticos!). Por último, não posso me esquecer de "Eneida", de Virgílio, e "Édipo Rei", de Sófocles, em que o incesto é citado com todas as letras! Fora os inúmeros casos atuais que nem as estatísticas são capazes de mensurar.

No Brasil, o incesto consensual não é crime - o termo se difere de pedofilia, não podemos nos esquecer - e isso nos leva a pensar como os mesmos personagens poderiam ter um final muito diferente se o livro fosse escrito por um autor brasileiro. No entanto, originalmente inglês, Tabitha Suzuma opta por um final pertinente com as leis do seu país. Uma história forte, impactante, dolorosa, cruel até. A tensão do enredo só é quebrada através da doçura de Maya, da inocência de Willa, da displicência de Thiffin e, até mesmo, do egocentrismo de Kit. E é dentro desse universo que o leitor se sente mais aliviado pela "normalidade" a que está acostumado. Viver os dramas desse amor também é um autoflagelo para o leitor, que insiste em virar a página.

4 comentários

  1. Olá,
    Esse livro é realmente dilacerante e polêmico. Infelizmente ele não me envolveu tanto quanto eu esperava, mas gosto de ler livros assim, bem fora do padrão. É sempre uma experiência.

    Beijo!
    www.amorpelaspaginas.com

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    1. Oi, Ray!
      Concordo com vc. Os livros fora do padrão são uma ótima experiência e fazem a gente pensar "fora da casinha"!
      Beijo grande!

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  2. Nunca li esse livro, mas sempre vejo muitas pessoas comentando sobre a carga emocional da mesma. Por você citar que tem tortura, frustração, doença e muito mais, já dá para imaginar. Não sei se teria coragem de ler, mas gostei de conhecer pelo seu ponto de vista.

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    1. Oi, PS!
      O livro realmente traz uma carga emocional muito forte. Se um dia você se sentir preparada para esse tipo de leitura, embarque, eu superindico. É desafiador.
      Beijão!

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