[RESENHA] Entre Irmãs - Frances de Pontes Peebles

SINOPSE: Nos anos 1920, as órfãs Emília e Luzia são as melhores costureiras de Taquaritinga do Norte, uma pequena cidade de Pernambuco. Fora isso, não podiam ser mais diferentes.Morena e bonita, Emília é uma sonhadora que quer escapar da vida no interior e ter um casamento honrado. Já Luzia, depois de um acidente na infância que a deixou com o braço deformado, passou a ser tratada pelos vizinhos como uma mulher que não serve para se casar e, portanto, inútil.Um dia, chega a Taquaritinga um bando de cangaceiros liderados por Carcará, um homem brutal que, como a ave da caatinga, arranca os olhos de suas presas. Impressionado com a franqueza e a inteligência de Luzia, ele a leva para ser a costureira de seu bando.Após perder a irmã, a pessoa mais importante de sua vida, Emília se casa e vai para o Recife. Ali, em meio à revolução que leva Getúlio Vargas ao poder, ela descobre que Luzia ainda está viva e é agora uma das líderes do bando de Carcará.Sem saber em que Luzia se transformou após tantos anos vagando por aquela terra escaldante e tão impiedosa quanto os cangaceiros, Emília precisa aprender algo que nunca lhe foi ensinado nas aulas de costura: como alinhavar o fio capaz de uni-las novamente.

Autora: Frances de Pontes Peebles
Editora: Arqueiro (SP, 2017)
Páginas: 572
Título orginal: "A costureira e o cangaceiro"
Livro que deu origem à série da globo.


"Entre irmãs" apresenta a história de Emília e Luzia, duas irmãs com personalidades muito distintas, mas que partilham os mesmos valores morais e a mesma profissão. Ser costureira é mais que um ofício, é uma filosofia para elas.

Além do amor em suas várias formas, a exaltação da força e da sensibilidade feminina estão muito presentes através de personagens corajosas e a frente do seu tempo durante todo o texto.

Em meio a um enredo ricamente sertanejo, político e histórico, Emília e Luzia têm seus caminhos separados, mas a sombra da companhia uma da outra permanece viva e presente em cada passo que dão. Cada descoberta, cada decisão, tudo... tudo é tecido com a linha amorosa que pertence às duas.
Cada analogia apresentada pelo narrador tendencioso em seus discursos está voltada para a vivência das personagens. São lindas comparações do cotidiano sertanejo, muitas vezes matuto, muitas vezes sábio.

O texto lembra muito as obras "O quinze", de Raquel de Queiroz e "Vidas Secas", de Graciliano Ramos, em que o nordestino está sempre posto a prova em uma terra seca e impiedosa. Mesmo sob seu crivo de morte, há uma beleza poética no sertão. Há um encantamento em seu mistério, na maneira como a chuva é necessária para que a vida brote milagrosamente.

O discurso regionalista comove e encanta à primeira vista. Tudo se move mesmo que pareça estático.
Em comparação à série - que assisti antes de ler o livro - há bastante diferenças na adaptação que beneficiam seu formato para tv e para o cinema. Alguns fatos foram condensados, trocados de ordem ou simplesmente não aconteceram no texto original. O que no livro é tratado com extrema discrição, como era necessário na época dos fatos, nas telinhas, é exposto de uma maneira muito mais enfática - como a questão homossexual -, ou pouco citadas - como a política de Getúlio Vargas. Todos, políticos, cangaceiros, coronéis e o próprio povo são vítimas e algozes. São heróis e vilões. Traídores em potencial pela sede de água, de vingança, de ambição e de justiça.

Um livro rico como a água na caatinga.
Bonito como o mandacuru quando floresce. 
Intenso como o amor entre irmãs.
Incômodo como alpercatas apertadas, como um calo no ombro pelo peso de um bornal... Cruel como a seca. Um texto para ser lido, relido, sublinhado, comentado, discutido. Um livro para se ter para sempre na estante.
Ariano Suassuna se orgulharia da brasilidade muito acima dos esteriótipos e expressões regionais. Com certeza ele estaria orgulhoso. 
Como eu.
OBS: De ressaca literária

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