
Em Os lobos dentro
das paredes, Lucy escuta ruídos "furtivos, rastejantes e amarrotados"
vindo de dentro das paredes de sua casa. Ela tem certeza de que existem lobos
vivendo ali, mas a família não acredita nela: "Você deve estar ouvindo camundongos",
diz a mãe; "Morcegos", berra o irmão; "Malditos ratos",
resmunga o pai. E todos são unânimes em dizer: "Se os lobos saírem de
dentro das paredes, está tudo acabado." "O que está acabado?",
pergunta Lucy. "Tudo", diz a mãe. "Todo mundo sabe disso",
completa.
Pobre Lucy. Os ruídos
continuam, cada vez mais apressados e alvoroçados. E, numa noite, as tais
criaturas realmente aparecem. Mas, na realidade, Lucy descobre que nem tudo
está perdido. Pelo contrário, quando os lobos saem, sua batalha está apenas
começando. Exilada no quintal, a família tenta encontrar uma solução, enquanto
os lobos assistem à sua televisão, comem a sua comida e dançam "danças
lupinas" pela casa, até que a menina tem uma idéia: "Tem um monte de
espaço nas paredes da casa. E pelo menos não é frio lá.", diz ela. E a
partir daí, foi a família de Lucy que rastejou pelas paredes rumo a um final
surpreendente.
Autor: Neil Gaiman
Lucy é uma menina
comum, vivendo uma vida comum. Até que um dia algo estranho acontece. A menina
escuta sons, ruídos farfalhantes, furtivos e alvoroçados vindos de dentro da
parede. Que coisa peculiar e assustadora para uma criança! Quanto mais a menina
analisa o assunto, mais convicta se torna do tamanho do problema: há lobos
dentro das paredes.
Intrigada e assustada, a menina leva a questão à família. Esses reagem com diferentes graus de
incredulidade e zombaria. Para eles, devem ser ratos ou morcegos, pois não
existem lobos nas paredes e todo mundo sabe: "se os lobos saírem de dentro
das paredes, está tudo acabado". A menina pergunta a todos quem foi que disse que "se os lobos saíssem estaria tudo acabado", mas ninguém sabia ao certo. O importante mesmo era que não existiam lobos nas paredes porque isso era
impossível. Lucy, cada vez mais frustrada, aguarda ansiosa e atenta, ouvindo
todos os ruídos. Tenta avisar novamente sobre os lobos apenas para cair em
ouvidos surdos. Ninguém acreditava na menina.
Por fim, ao se
deitar com seu porquinho, percebe o silêncio absoluto após dias de ruídos e
farfalhares. E é ao cair no sono que o impossível acontece...
A partir daí Lucy e
sua família têm que fugir da casa. Sua família agora, tendo real dimensão do
problema, tem certeza de que está tudo perdido e não há nada a se fazer. Será
mesmo?
***
Com seu jeitinho
sutil e peculiar, próprias de suas histórias, Gaiman nos oferece - com um
conto lindamente ilustrado -, alguns dos nossos maiores infantis: os monstros
que vivem no escuro que ninguém mais parece ver e o de não ser escutado ao ter
alertar alguma coisa por ser uma criança.
Como adulta, há mais
de uma lição a ser aprendida com essa obra. A negação: não querer
enxergar o problema como ele é até ser tarde demais e se ver no meio de uma
situação, aparentemente, irremediável (parece familiar?). E também como uma
situação, mesmo difícil, pode ser contornada se a enfrentarmos de frente ao invés
de só repetir que "todo mundo sabe" que "está tudo
acabado" apenas porque alguém disse isso. Afinal, como diria Thomas
Hobbes: "o lobo do homem é o homem".
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