[Resenha] Pensamentos de uma louca - Kimberly Kelly

 


SINOPSE: "Pensamentos de uma louca" é uma coleção de textos, poemas, sonhos e pensamentos que surgem em minha mente e explodem pelos dedos.

 

AUTORA: Kimberly Kelly

EDITORA: Independente – Disponível na Amazon. Acesse aqui: 

PÁGINAS: 53

 

                       “Escrever é colocar o mais íntimo do seu ser na ponta do lápis.

                        E deixar que os outros mergulhem de cabeça em parte de você.”


O trecho acima faz parte de um dos poemas do livro “Pensamentos de uma louca”, de Kimberly Kelly, que evidencia o ato de escrever como libertação. É através dele que a autora procura expressar-se através de quarenta textos aparentemente despretensiosos. 

Nas prosas poéticas, os pensamentos conflituosos parecem travar uma batalha íntima e inquietante no eu-lírico quando movido por paixões, ora saudosas ora sexualmente avassaladoras. A necessidade de invocar mantras para autoafirmação e para a busca por sua identidade é quase sempre urgente. 

Claramente autoficcional, cada espaço contemporâneo descrito convida o leitor a passear por cenários pitorescos de onde tende a encontrar alívio para as suas mazelas e incertezas. É na natureza que encontra a sinestesia de que necessita para compreender o mundo ao seu redor e também para lidar com as suas relações afetivas e a sua sexualidade. É também através dela que desfruta de momentos reflexivos sobre as questões que envolvem a liberdade, o empoderamento feminino e as desigualdades sociais.

O muro da cidade, descrito em um dos textos, é mais do que uma manifestação poética por justiça social. Ele parece representar o próprio seio feminino exposto como protesto, como resposta a um sistema opressor no qual a voz que clama é possivelmente parte afetada. O grito ouvido pelo leitor da atualidade não é o do muro em sua metáfora: é o grito das mulheres, dos negros, da comunidade LGBTQI+ e de todas as “minorias” que são diariamente violentadas, abusadas, reprimidas, ameaçadas, condenadas e assassinadas. É um grito por liberdade de ser e direito de ter!

Ao longo dos textos, o uso de metáforas torna-se cada vez mais constante e, em várias tentativas de compreender as metades de si mesmo, há um poema em específico que faz lembrar “Traduzir-se”, de Ferreira Gullar, no qual o poeta declara encarnar a mesma passível necessidade de autoconhecimento dentro dessa dicotomia.


                                        "Uma parte neva, quase congela.

                        "Outra parte queima, derretendo a frieza dos sentimentos."


Percebe-se que, apesar de tentar afirmar alguns momentos de frieza, o eu-lírico falha miseravelmente, já que exala paixões a cada página e é, sem dúvida alguma, movido pelas suas apostas no amor, que vive a exaltar em sua plenitude. Talvez suas tentativas de se autoconhecer também tenham se refletido nas comparações que faz de si com seus amigos e com seus amores – exatamente como um dia fez Renato Russo na letra de “Eduardo e Mônica” – e no seu apreço pelas leituras em que encontra apoio emocional, a fim de não sabotar seus desejos solitários e latentes e, tampouco, autocobrar-se padrões sociais que, por vezes, faz com que vá chorar no banheiro. O medo de não ter controle sobre o que não há controle faz parte da essência de todo ser humano.

Dessa forma, o romantismo está sempre presente na obra de Kimberly Kelly, marcando o saudosismo pelo rompimento em relações afetivas, a esperança em ações de generosidade e de gratidão, o suporte da fé e das crenças religiosas diante das adversidades e o anseio por ressignificar as dores emocionais.

 

                                       "...a ansiedade me abraça, quase sufoca. 

                            "Ela cria mil e uma histórias que não vão acontecer."


Mesmo que por vezes aparente desânimo e cansaço, a mente ansiosa e acelerada expressa em palavras não só o que se passa em seus pensamentos, mas também em seu coração. E mesmo afirmando que seus ideais românticos não são convencionais e que princesas podem defender seu próprio castelo, questiona-se sobre a definição do amor e anseia andar com companhia na montanha-russa da vida, estampando no rosto a sua curva mais bonita: o sorriso.

Portanto, o título é equivocado. Definitivamente, os pensamentos não são de uma louca. São de um eu-lírico que se mostra um ser humano em constante construção, de uma lagarta em processo de mutação, de uma mulher que transborda.


                                                    Por Lu Muniz, escritora do romance “Doce Inocência”. Para                                                                         adquirir a nova versão ampliada do seu livro, clique aqui.


8 comentários

  1. Eu quase chorei com essa resenha maravilhosa.
    Você conseguiu sentir/entender coisas que eu sentia no momento da escrita.
    Que lindo! Eu amei.

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    1. Fico muito feliz que vc tenha gostado, Kim! Mergulhei na leitura e escrevi com o coração. Super beijo!

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  2. Lu, que beleza de resenha! Sensibilidade, conhecimento do mundo e auto conhecimento permitiram essa análise incrível da obra aqui resenhada. Parabéns, Lu !

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    1. Nossa, que coisa boa de ler! Muito obrigada pelo carinho. Fico mt feliz que tenha gostado.

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