[RESENHA] O GUIA DO CAVALHEIRO PARA O VÍCIO E A VIRTUDE - MACKENZI LEE

       Uma última viagem de um ano pela Europa antes de assumir as responsabilidades e ajudar seu pai com a propriedade. Seria a viagem perfeita, se não fosse por algumas questões: ter a companhia de um tutor que planeja fazer dessa a viagem mais chata já vivenciada, sem festas, bebedeiras e jogatinas; a presença de sua irmã mais nova que não passa de um estorvo; ter que disfarçar a sua grande paixão pelo seu melhor amigo que irá junto nesta viagem; e a sua inexistente vontade de voltar para ajudar seu pai. É... essa vai ser uma longa  e massacrante viagem para Monty, a qual ele fará de tudo para tornar mais divertida.

Sinopse:Henry "Monty" Montague nasceu e foi criado para ser um cavalheiro, mas nunca foi domado. Os melhores internatos da Inglaterra e a constante desaprovação do pai não conseguiram conter nenhuma das suas paixões - jogos de azar, álcool e dividir a cama com mulheres e homens.
     Mas agora sua busca constante por uma vida cheia de prazeres e vícios está em risco. O pai quer que ele tome conta dos negócios da família. Mas antes Monty vai partir em seu Grand Tour pela Europa, com a irmã mais nova, Felicity, e o melhor amigo, Percy - por quem ele mantém uma paixão inconsequente e impossível. Monty decide fazer desta última escapada umafesta hedonista e flertar com Percy de Paris a Roma. Mas quando uma de suas decisões imprudentes transforma a viagem em uma angustiante caçada através da Europa, isso faz com que ele questione tudo o que conhece, incluindo sua relação com o garoto que ele adora.

Autora: MacKenzi Lee
Editora: Galera Record
Páginas: 433




        Quando lemos Romances de Época e Históricos, estamos acostumados a protagonistas fortes, másculos e poderosos. Monty não é nada disso. Ele é mimado, chato, dramático. Foi antipatia a primeira vista.
   
        Ao partir no Grand Tour pela Europa, Monty só tem uma coisa em mente: se divertir, não importa como. Em uma das festas que é obrigado a frequentar, acaba roubando algo de uma das pessoas mais importantes da festa. E é aí que a história começa de verdade e que minha visão sobre Monty começou a mudar. Devido a este ato impensado, ele, Percy, seu melhor amigo, e irmã Felicity, se vêm sozinhos pela Europa e vão ter que fazer de tudo para sobreviver.

      Monty apesar de todos os defeitos apresentados no início, tem uma veia cômica que fica evidente ao descrever os costumes da época:

"Naquela imitação sofrível da moda francesa, os dois parecem guloseimas na vitrine da confeitaria no fim do dia, esforçando-se demais para serem bonitos enquanto murcham."

        A partir do momento em que eles tem que lutar por sua sobrevivência é que passamos a enxergar Monty com outros olhos e entendemos que todas as suas atitudes são meios de se manter a defensiva e uma tentativa de esconder toda a dor que carrega dentro de si devido aos maus tratos sofridos dentro de casa por parte de um pai machista, homofóbico e violento.  
  
       É neste ponto que a autora nos mostra que este não é apenas um Romance Histórico como outros que encontramos por aí. Através de sua obra, ela levanta assuntos importantíssimos através de cada personagem. Com Monty, ela trabalha a questão da homofobia e da dificuldade que é se assumir perante a sua família e a sociedade. Percy, não é apenas o amigo por quem Monty é apaixonado. Ele é um garoto negro que foi criado por parentes brancos enquanto a escravidão ainda se fazia presente. E Felicity, por sua vez, é uma garota extremamente inteligente cujo sonho é se tornar médica em um mundo onde mulheres devem estudar apenas bons costumes.

       Através das reflexões de Monty começamos a compreender suas motivações e imaturidade. Se hoje já é difícil ser homossexual imaginem em meados de 1700...


"É algo estranho, querer morrer. Ainda mais estranho quando não se sente que merece escapar tão facilmente. eu deveria ter lutado mais contra mim mesmo, ter trancafiado tudo aquilo melhor. Não deveria ter vontade de agir de acordo com meus instintos tão naturais."


           Mas como todo Romance Histórico, não pode faltar o romance propriamente dito. E a história de Monty e Percy é de encher os corações. Fica evidente desde o começo do livro  o quanto ambos se amam, entretanto pelo medo de ser rejeitado Monty acaba se mostrando insensível o que acaba por afastar Percy. Fica claro  que algumas coisas não mudam com o passar dos séculos: a inabilidade de Percy e Monty em relação ao relacionamento de ambos, mostra o quanto apesar dos séculos ainda temos o dom de estragar tudo devido a nossas inseguranças.

         Este foi um livro que não me agradou de imediato, mas que com o passar das páginas foi me conquistando com o romance e com as reflexões tão importantes ainda nos dias de hoje.










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