[Resenha] Rio Vermelho - EGBÉ

Em pleno 2018 ainda é comum vivenciarmos casos de racismo. Pensando nisso a editora Luva está lançando o livro Rio vermelho. Um livro escrito à 46 mãos -algumas negras e outras brancas para falar sobre racismo, nossas heranças negras, preconceito e intolerância religioso e escravidão. Em Rio Vermelho os autores propõem o respeito à diversidade e discutir questões como as raízes do Brasil.


Sinopse: A Ilha de Itaparica é um lugar de beleza paradisíaca. Mas também é um lugar de mistérios insondáveis, os quais o padre Cipriano está prestes a conhecer! Quando a noite cai sobre a Ilha é possível ouvir o pio agourento das corujas o estalido do açoite que martirizava os negros escravizados, e também o eco dos atabaques incentivando os filhos de fé a continuarem a sua luta! O clamor que vem das senzalas revela que se aproxima a hora de Xangô fazer justiça!

Autores: Organizado por Vitto Graziano e elaborado a partir do levantamento, e correções, da historiadora Marcia Medeiros – com auxílio dos nomes do terror Cesar Bravo, Oscar Nestarez,Cæsar Charone, Hedjan Costa, W.F. Endlich,  Carlos H. F. Gomes  e Luciano Pezzan. Também participam desse projeto, o(a)s talentosíssimo(a)s e premiado(a)s: Fábio Fernandes, Renata Maggessi, Alan de Sá, Bruno Godoi, Talita Facco, Brunna Brasil, Ricardo Ventura, Henrique de Micco, Soraya Abuchaim ,Gustavo Lopes, José Beffa, Isaque Lazaro, Thiago Kuerques e Jonatan Magella.

Editora: Luva Editora
Páginas: 180

Em pleno 2018 ainda é comum vivenciarmos e conhecermos casos de preconceito e intolerância religiosa principalmente quando se trata das religiões africanas e seus descendentes. Momento em que parece ter aflorado um pensamento retrógrado e desrespeitoso quanto ao próximo, a editora Luva traz um livro de contos que se passam em diversas épocas num mesmo cenário, a ilha de Itaparica, onde viveu um terrível senhor de engenho, responsável por diversas mortes cruéis de seus escravos.

Através desse romance os 23 autores pensam nas consequências de tanto sangue inocente derramado em uma terra, sobre como esses acontecimentos deixam marcas em seus descendentes e como, de certa forma, a terra clama por justiça. Através de acontecimentos misteriosos na ilha os autores abordam a preconceito a discriminação e nos mostra a crueldade e o sofrimento contra um povo.
Foto Original: Garotas Devorando Livros

Com escritas envolventes e capazes de te transportar para os acontecimentos do passado e do presente os autores nos fazem repensar nossos comportamentos diários e os nossos conhecimentos sobre a escravidão. Pensar em nossas raízes escravas e repensar nosso respeito por aqueles que foram arrancados de sua terra para serem torturados e sofrerem abusos em uma terra estranha. Durante a leitura dessa obra única pude repensar minha posição e rever minhas opiniões.

Ao longo dos nossos anos estudantis somos apresentados a escravidão no Brasil e suas consequências, lemos livros escritos na época da escravidão, mas todos esses nossos conhecimentos são adquiridos de forma tão impessoal que muitas vezes não conseguimos ter empatia pelos sofrimentos daqueles que foram escravizados. Em Rio de Sangue somos jogados pelos autores dentro de histórias fictícias, mas baseadas em acontecimentos históricos sobre a escravidão. Além disso, temos a oportunidade de conhecer um pouco mais as religiões africanas e nos confrontar com “pré-conceitos” que temos a respeito delas. O livro nos tira da posição de conforto, da visão do homem branco, ocidental e dominador para a do homem negro que perdeu sua liberdade e até mesmo a alcunha de “ser-humano”.

“Foram quatrocentos anos de uma cultura contra apenas os cento e trinta anos da assinatura de uma lei. O que começou como uma lei de questões humanitárias, revelou-se outra estratégia política e econômica para agradar aos interesses de expandir o mercado consumidor. Tornou-se pó diante da envergadura do espaço e os ossos daqueles que viveram o inferno da escravidão e ainda enraizavam expressões de cunho negativo graças à cor de suas peles. O racismo é a herança mais cruel e silenciosa da escravidão, pois diferente do açoite, não deixa marcas, mas aprisiona em outra masmorra, a do abismo social.”

Com uma edição super cuidadosa, com uma ótima diagramação a editora Luva traz um projeto ousado de contos que se tornam um romance em que cada autor escreve um capítulo sobre um momento distinto da história da ilha Itaparica que se cruzam, se juntam e culminam em um final em comum. Nunca deixando de lado o clima de mistério e horror os autores usam as alegorias de fantasmas e deuses para falar de perdas, injustiças, preconceito social e religioso e marcas históricas.

O livro vale super à pena a leitura principalmente no atual momento que estamos vivendo, nos fazendo revisitar um assunto importante, um momento histórico e a formação de uma nação misto, cheio de sofrimentos e que deve ser lembrado pelo povo brasileiro.


Classificação:

Esse livro foi cedido pela editora em forma de parceria.

Nenhum comentário